O tromboembolismo venoso (TEV) é uma doença relativamente comum, complexa, multifatorial e está associada à redução da sobrevida, custos assistenciais elevados e recorrência frequente.
O desenvolvimento do TEV envolve interações entre fatores adquiridos e hereditários para o surgimento do quadro, tais como: aumento da idade, obesidade, hospitalização, doença aguda, pacientes em home care em repouso prolongado, câncer ativo, trauma, fraturas, imobilidade de um membro, gestação, puerpério, contraceptivos orais e hormonioterapia.
Segundo o 10th Guideline of American College of Chest Physician, publicado em 2016, a duração da anticoagulação para pacientes com TEV, provocado por um fator de risco conhecido e reversível, deve ser de 3 meses. Porém, aos pacientes com trombose venosa profunda proximal ou embolia pulmonar espontâneos, isto é, sem fatores de risco associados e com risco baixo ou moderado de sangramento, sugere-se terapia anticoagulante por tempo indeterminado ao invés de 3 meses de tratamento. Além disso, naqueles com alto risco de sangramento, recomenda-se 3 meses de terapia anticoagulante ao invés de terapia estendida.
Para pacientes com TEV, com neoplasia (trombose associada a neoplasia), a terapia anticoagulante sugerida nos primeiros 3 meses é HBPM (Heparina de baixo peso molecular) ao invés de AVK (antagonistas da vitamina K), dabigatrana, rivaroxabana, apixabana ou edoxabana. Já nos pacientes com TEV, sem neoplasia, a terapia anticoagulante sugerida nos primeiros 3 meses é dabigatrana, rivaroxabana, apixabana ou edoxabana em vez de AVK.
Em relação à melhor terapêutica para terapia anticoagulante de longo prazo, foi publicado recentemente na New Engl J Med o estudo clínico Einstein Choice, Fase III, randomizado, duplo cego, envolvendo 3.396 pacientes com diagnóstico de TEV para receber rivaroxabana (10mg ou 20mg) ou 100mg de aspirina.
O desfecho primário do estudo foi a recorrência de TEV fatal e não fatal e em relação à segurança terapêutica o principal desfecho foi sangramento. Os pacientes foram analisados com base no método de intention-to-treat e a mediana de duração do tratamento foi 351 dias. A recorrência de TEV ocorreu em 17 dos 1.107 pacientes (1,5%) que receberam 20mg de rivaroxabana e em 13 dos 1.127 pacientes (1,2%) que receberam 10mg de rivaroxabana, em comparação a 50 dos 1.131 pacientes (4,4%) que receberam aspirina. A taxa de sangramento maior foi de 0,5% no grupo que recebeu 20mg de rivaroxabana, 0,4% no grupo que recebeu 10mg de rivaroxabana e 0,3% no grupo da aspirina e a taxa de sangramento menor foi de 2,7%, 2% e 1,8%, respectivamente. A incidência de efeitos adversos foi semelhante nos três grupos.
O que se pôde concluir neste estudo foi que naqueles pacientes com indicação de anticoagulação prolongada, o risco de recorrência de TEV foi significativamente menor com rivaroxabana na dose de 10 ou 20mg do que com aspirina, sem aumento significativo nas taxas de sangramento.
Dra. Leila Pessoa de Melo
Diretora clíncia do Hemacore - Centro de Hematologia