TV Câmara SJC: Dra. Maíra tira dúvidas sobre leucemia

TV Câmara SJC: Dra. Maíra tira dúvidas sobre leucemia

 

O que é leucemia?

Dra. Maíra - A leucemia é o câncer da célula do sangue. Ela não representa um único tipo de doença. Dependendo de onde está se formando esse câncer, teremos um comportamento e uma doença diferente.

 

Quais são os tipos de leucemia?

Dra. Maíra - Temos alguns tipos de classificação de leucemia que estão baseadas na célula que se transformou na leucemia. Se for uma célula muito imatura, uma célula muito jovem, é chamada de leucemia aguda. Caso se trate de uma célula mais madura, chamamos de leucemia crônica. O comportamento da leucemia aguda é completamente diferente da leucemia crônica.

A leucemia também é classificada de acordo com a linhagem de célula que está gerando a doença. Se for uma linhagem mieloide, chamamos de leucemia mieloide. Se for de uma linhagem linfoide, chamamos de leucemia linfoide.

 

Quais são as principais causas da leucemia?

Dra. Maíra - Quando falamos em câncer, falamos que uma célula sofreu uma mutação. A causa da leucemia está dentro do DNA. Em algumas situações, no entanto, não conseguimos descrever ou fazer uma relação causal entre a origem dessa mutação e o que aconteceu para levar a essa mutação. O que a gente sabe? Sabemos que nas pessoas que tiveram contato com radiação ionizante, como os sobreviventes da bomba atômica de Hiroshima, no Japão, por exemplo, houve uma incidência muito maior de leucemia. Então sabemos que radiação ionizante gera mutação no DNA, que pode gerar leucemia. Uma outra situação clássica seria a leucemia em pessoas que tiveram contato com um tipo de pesticida, que agora está proibido no Brasil, que é conhecido como organofosforado. Uma outra situação são produtos químicos como o benzeno. Mas algumas vezes, o paciente nunca teve contato com esses fatores.

 

A leucemia pode acontecer em qualquer idade?

Dra. Maíra - Sim, mas vai depender da leucemia. Por exemplo, a leucemia linfoide aguda é muito comum em criança e tem um bom prognóstico. A criança responde muito bem ao tratamento. Um outro exemplo é a leucemia linfoide crônica, que é mais comum em pacientes idosos. Dependendo do tipo de idade, vamos ter um tipo de leucemia mais comum.

 

Como é feito o diagnóstico da leucemia?

Dra. Maíra - O principal exame é o hemograma que traz muita informação para o hematologista. Por exemplo, um paciente que se apresenta com anemia, com defesa ou muito baixa ou muito aumentada e alteração no número de plaquetas, deve ser investigado. O diagnóstico só é fechado com a realização do mielograma, um exame no qual será coletada uma gota de sangue de dentro da medula óssea que será analisada em laboratório. O tipo de leucemia é diagnosticado por meio de um outro exame denominado imunofenotipagem. Esse exame classifica a leucemia. Se é crônica, aguda, mieloide ou linfoide. Existem outros exames de acompanhamento, mas o tripé de exames são hemograma, mielograma e imunofenotipagem.

 

Quais são os principais sintomas da leucemia?

Dra. Maíra - Temos que pensar que a leucemia é um câncer na fábrica do sangue, na medula óssea. Quando temos uma célula atrapalhando essa produção, teremos os sintomas da queda de produção do sangue. E temos três tipos de células diferentes no sangue. Temos as células vermelhas, as hemácias, que estão relacionadas com o transplante de oxigênio. Temos os leucócitos, nossas células de defesa, e temos as plaquetas que são as células relacionadas com a nossa coagulação. Então, se eu não estou produzindo essas células de forma correta porque eu tenho um câncer dentro da fábrica do sangue, eu vou ter sintomas. Um paciente com alteração na parte vermelha do sangue vai começar a ter anemia. Vale lembrar que a anemia não se transforma em leucemia, mas a leucemia gera a anemia. Um dos sintomas é de cansaço porque a pessoa está com anemia. Se tiver alterações das células de defesa, a pessoa começa a ter infecções de repetição. Alterações nos fatores de coagulação, o paciente começa a ter sangramentos, petéquias (pintinhas de sangue). Esses sintomas indicam que devemos investigar.

 

A leucemia tem cura?

Dra. Maíra - A leucemia tem cura, só que precisamos classificá-la pra saber se será possível ou não. As leucemias agudas, que têm um comportamento muito mais agressivo, são mais graves. São aquelas leucemias que, se não forem tratadas, o paciente vai a óbito. Portanto, temos que tratar rápido. Essas leucemias são altamente curáveis. Já a leucemia crônica, como a própria doença diz, é uma doença crônica e, na maioria das vezes, não tem cura. Mas se formos pensar, a maioria das doenças crônicas não têm cura como, por exemplo, a pressão alta, o diabetes. Existem tratamentos para as leucemias crônicas e algumas não precisam ser tratadas. De uma forma geral, o paciente vai conviver muito bem com a sua leucemia crônica. Ele não vai se curar, mas ele vai ter qualidade de vida normal.

 

Quais são os principais tratamentos medicamentosos para a leucemia?

Dra. Maíra - Depende da leucemia. Para leucemias agudas o tratamento é a quimioterapia. Geralmente elas têm um primeiro ciclo, chamado de indução, que é quando fazemos quimioterapia extremamente agressiva. Essa quimioterapia vai retirar as células de leucemia da medula óssea e vamos fazer que a medula óssea volte a produzir células normais. Depois dessa primeira indução, mantemos mais um período de quimioterapia para que a leucemia não volte. Esse período de tratamento depende muito do tipo de leucemia. Se é linfoide ou mieloide. Cada leucemia tem suas medicações, os protocolos e o tempo de tratamento. As leucemias crônicas, por exemplo, podem ser tratadas ou não. Hoje, temos uma gama de tratamentos para a leucemia crônica que envolvem não só quimioterapia, mas também medicamentos inibidores de tirosina-quinase, medicações que chamamos de anticorpos monoclonais. Então, dependendo do tipo de leucemia, teremos um tipo de tratamento que não é obrigatoriamente quimioterapia.

 

Em que casos o transplante de medula óssea é indicado para o tratamento da leucemia?

Dra. Maíra - O tratamento depende da classificação da leucemia. Geralmente, para a leucemia crônica não será indicado o transplante de medula porque hoje temos medicamentos que são altamente eficazes no tratamento de leucemia e que mantêm o paciente com uma excelente qualidade de vida, sem que precisemos curar. A leucemia crônica se torna realmente uma doença crônica e o paciente convive muito bem com a doença. Já nas leucemias agudas, teremos uma classificação de risco. Nessa classificação, veremos que alguns pacientes vão ter um prognóstico pior que outros. Para esses pacientes, que têm um prognóstico pior, podemos indicar um transplante de medula óssea, já para uma consolidação da quimioterapia. A ideia é garantir que a leucemia não volte com a indicação do transplante.

 

Quais são os tipos de transplante de medula óssea?

Dra. Maíra - Temos dois tipos de transplante, o alogênico e o autólogo. O autólogo é basicamente uma quimioterapia. Retiramos a célula-tronco da medula do paciente e congelamos. Depois de congelada, o paciente faz uma quimioterapia bastante agressiva e, entre um ou dois dias, a célula-tronco é descongelada e devolvida ao paciente. Na verdade, é uma quimioterapia por meio da qual fazemos um resgate com a própria medula do paciente que não foi afetada pela quimioterapia. Também temos os transplantes alogênicos, que é quando a doação da medula vem de uma outra pessoa que pode ser de um irmão ou de um banco de medula. Existe também o transplante de cordão, quando usamos a célula-tronco quem vem do cordão umbilical.  

 

É possível prevenir a leucemia?

Dra. Maíra - Não existe. Na verdade, seria não se expor a situações de risco para evitar mutação genética como no caso de pesticidas ou radiação, por exemplo. Mas realmente não temos como controlar se está havendo alguma mutação na medula óssea que vai predispor à leucemia.

 

A leucemia é uma doença com influência genética ou hereditária?

Dra. Maíra - Se eu tenho uma gestante que está grávida e tem leucemia, ela não vai passar a doença para o filho. Esse tipo de transmissão não acontece. Agora, toda leucemia é uma doença genética.  Para eu ter a leucemia, eu preciso ter uma mutação dentro do DNA da célula que está dentro medula óssea. O câncer é uma doença genética. Tem que haver uma mutação para gerar o câncer. O que sabemos hoje é que existem algumas mutações genéticas que podem passar de pai pra filho e aí se a pessoa que está com leucemia tem essa mutação genética, podemos até investigar se os filhos vão ter essa mutação também, o que daria uma maior predisposição dessa pessoa também ter leucemia. Normalmente, quando descobrimos que o paciente tem leucemia, temos um painel de avaliação das mutações genéticas que essa pessoa pode ter. Se nesse painel aparecer alguma relação familiar, podemos até estudar a família. Mas são exames que, infelizmente, não são todos que têm acesso. São exames extremamente caros, mas acredito que para o futuro teremos uma avaliação melhor dessa questão hereditária relacionada à leucemia.

 

Qual é a importância do diagnóstico precoce para a leucemia?

Dra. Maíra - Leucemia é um tipo de câncer que é muito difícil a gente fazer diagnóstico tardio. Não é como, por exemplo, um tumor de mama que tinha um carocinho há três anos, mas nunca crescia. A leucemia aguda é tão dramática que é muito difícil descobrimos com mais de 2 ou 3 semanas. O paciente tem alterações e vai muito no pronto-socorro. Ele não vai se sentir bem. Com uma leucemia aguda, ele vai se sentir doente e daí não tem muito atraso para fazer o diagnóstico e começar o tratamento. Já nas leucemias crônicas, as vezes o paciente tem há anos e não sabe. Porque muitas vezes não está afetando o paciente e ele nem precisa ser tratado. A gente faz o diagnóstico e continua acompanhando.

 

Entrevista concedida ao Programa Dicas de Saúde, da TV Câmara de São José dos Campos 

 


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Vanessa Fernandes

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