No dia 23/9 é comemorado o Dia Mundial da Conscientização da PTI (púrpura trombocitopênica idiopática). A hematologia Júlia Mota Leite, do Hemacore – Centro de Hematologia, falou à TV Câmara sobre essa doença hematológica, seus principais sintomas e tratamento.
O que é púrpura trombocitopênica idiopática (PTI)?
Dra. Júiia - A púrpura trombocitopênica idiopática ou imunológica é uma doença hematológica na qual há redução do número de plaquetas, geralmente abaixo de 100 mil. A causa geralmente é imunológica, é autoimune, ou seja, o nosso organismo acaba destruindo as plaquetas. Geralmente, a PTI é importante quando essas plaquetas caem a um valor muito baixo, abaixo de 20, 30, 10 mil que é quando o paciente vai ter alguns sintomas clínicos.
A PTI atinge muitas pessoas?
Dra. Júiia - É uma doença que dentro da hematologia é frequente. Dentro da população geral, não é muito frequente. Atinge entre 1 a 6 pessoas a cada 100 mil habitantes. Isso com relação a queda pequena das plaquetas. Aqueles pacientes realmente sintomáticos, que precisam de um tratamento, são mais raros.
A doença pode acometer mais de uma vez?
Dra. Júiia - Sim. A PTI pode ser recorrente, pode ir e voltar. Em crianças, geralmente, esse quadro é mais simples e mais resolutivo. Em criança está muito relacionado com quadro viral, com vacinação e geralmente resolve sozinho. Geralmente tem um curso mais tranquilo. No adulto, geralmente é um curso mais crônico, mais arrastado. Então, muitas vezes a gente pode ter que tratar e depois de alguma tempo essa doença voltar e ter que tratar novamente. Enfim, a gente pode ter um curso mais crônico, com recaídas.
Existe uma idade com mais propensão ao desenvolvimento da PTI?
Dra. Júiia - Em crianças, entre 2 e 6 anos, pelos quadros infecciosos virais e vacinação. Em adultos, geralmente atinge um pouco mais de mulheres de meia idade, entre 30, 40, 50 anos, mas não é exclusivo deles. Pode atingir qualquer pessoa, de qualquer sexo e faixa etária.
Por que existe uma faixa etária com mais surgimento de PTI?
Dra. Júiia - A principal causa é a autoimune. Não tem um motivo específico para isso acontecer, mas geralmente é nosso sistema imunológico que passa a combater as plaquetas, passa a destruí-las. Existem alguns fatores que predispõem a essa doença quer seriam as infecções, alguma cirurgia maior, medicação. Existem alguns fatores que podem predispor, mas a causa da autoimunidade não é conhecida.
Quais os tipos de púrpura que existem?
Dra. Júiia - Púrpura ela é nada mais do que as manchas no corpo. Aqueles hematomas, aquelas manchas roxas que são as púrpuras e, geralmente, elas aparecem quando as plaquetas caem. Agora, o motivo das plaquetas caírem são inúmeros. Além da PTI, existe a PTT, que é a púrpura trombocitopênica trombótica, que é outra doença na qual a plaqueta abaixa, mas que tem causa diferente, gravidade e tratamento diferentes. Geralmente, a PTT vem acompanhada de uma anemia importante, quadro neurológico, precisa de um tratamento de urgência. É um pouco diferente da PTI. Além disso, a gente pode ter púrpura quando as plaquetas caem por uso de medicação, por falta de alguma vitamina, por alguma deficiência na fábrica do sangue, que é a medula óssea. Então existem inúmeras causas para caírem as plaquetas e é quando aparecem as púrpuras, as manchas no corpo.
A PTI pode atingir qualquer parte do corpo?
Dra. Júiia - A PTI é uma doença do sangue, que está circulando em todo nosso corpo. Então a gente pode ter manchas decorrentes das plaquetas baixas no corpo inteiro. A doença em si, a PTI, não leva a nenhuma disfunção de nenhum órgão. Ela não leva a uma disfunção do rim, acometimento do coração, nada disso, mas por conta das plaquetas baixas, ela pode levar a sangramentos em qualquer local do corpo, apesar de ser pouco comum. O mais comum de sangramento na PTI é muco-cutâneo, na pele e as vezes gengiva. Isso é o mais comum, mas ela pode acontecer em qualquer lugar do corpo.
O que pode causar a PTI?
Dra. Júiia - A maioria das vezes a gente fala que é idiopática, ou seja, ela não tem uma causa específica para isso. O que a gente conhece é essa autoimunidade. O nosso organismo vai destruir as plaquetas. E existem alguns fatores que podem predispor, que pode ajudar que isso aconteça com algumas infecções virais, situações de estresse, cirurgias, gestação. São algumas situações que podem ajudar a predispor, mas a causa não são elas. A causa mesmo é autoimune. O nosso próprio organismo adquire um anticorpo que vai destruir essas plaquetas.
Quem tem púrpura pode ter trombose?
Dra. Júiia - A púrpura é um leque muito grande. A PTI não tem muita relação com trombose. É muito rara essa associação. A PTT tem uma relação maior com a trombose.
A PTI tem alguma influência genética ou hereditária?
Dra. Júiia - Não tem influência. A PTI é adquirida ao longo da vida e por autoimunidade.
Quais são os principais sintomas da PTI?
Dra. Júiia - Hematomas espontâneos que pode aparecer em qualquer local do corpo, sem bater em nenhum lugar, muitas vezes associados a petéquias, que são aquelas manchinhas na pele. Algumas vezes pode ter gengivorragia, hematúria, que o sangue na urina.
Com é feito o diagnóstico da doença?
Dra. Júiia - É simples. Feito através da história clínica do paciente, associado a exame físico. Geralmente, além desses hematomas, não encontramos nenhuma outra alteração. São simplesmente as alterações hemorrágicas, as manchas roxas e o hemograma simples, mostrando a plaqueta baixa isolada do hemograma. Em alguns raros casos, que a gente fica em dúvida, precisamos fazer o exame da medula óssea.
É possível prevenir a PTI?
Dra. Júiia - Não tem nenhuma forma de prevenir. É algo que acontece de uma hora para outra, sem motivo específico. O que a gente precisa é fica atento aos sinais que o corpo dá. Então, se tiver uma alteraçãozinha, muitas manchas no corpo, procure um hematologista.
Como saber se temos propensão a desenvolver a doença?
Dra. Júiia - Não existe exame específico para isso. Fazer um hemograma como rotina, dependendo da idade, é importante para a gente ficar atento.
A PTI mal tratada pode evoluir para problemas mais graves?
Dra. Júiia - Para PTI, o valor de plaquetas é muito variável. Acima de 30, 40, 50 mil de plaquetas, geralmente não é necessário tratamento. A gente faz só o acompanhamento do paciente, mas quando a plaqueta está muito baixa, abaixo de 20 mil, 10 mil e o paciente apresenta sangramento, o tratamento é muito importante para que não aconteça um sangramento maior. Apesar de ser raro, a gente precisa tratar para evitar que isso aconteça. Então, se a gente não trata naquele paciente com plaqueta baixa que está com sangramento, existe um risco, apesar de pequeno, de evoluir com sangramento maior, mais grave.
De forma geral, como a PTI é tratada?
Dra. Júiia - A PTI, muitas vezes não precisa ser tratada. Se o paciente tem um valor seguro de plaquetas e nunca teve sangramento, é acompanhamento em consultório. Se o paciente, por exemplo, tem 50 mil plaquetas, ele não precisa tratar. A gente acompanha, mas em algumas situações cirúrgicas, a gente precisa fazer um tratamento pontual nessas ocasiões para a plaqueta subir e ele conseguir fazer um procedimento seguro sem complicações. Agora, se o paciente tem essa plaqueta muito baixa, abaixo de 20 mil, 10 mil e apresenta alguns quadros de sangramento, é indicado iniciar um tratamento. O tratamento de escolha geralmente é o corticoide e, em situações de risco de urgência, a gente utiliza a imunoglobulina. Em caso de persistência com o corticoide existem outros medicamentos como anticorpos monoclonais que também fazem parte do tratamento de PTI.
Quem tem PTI pode tomar vacina da Covid-19?
Dra. Júiia - Depende. É importante passar no hematologista para ter essa liberação ou não. Paciente que têm a PTI controlada, não é problema fazer a vacinação. Mas aqueles pacientes recém diagnosticados, em uso de corticoide dose alta, geralmente vai ter alguma restrição, mas que a gente vai individualizar e avaliar no consultório.
Quem desenvolve a doença pode ter uma vida normal?
Dra. Júiia - Consegue, daí vai depender de cada paciente, de cada caso. Naqueles pacientes com uma PTI mais crônica, que têm a plaqueta baixa de forma crônica, mas que é um valor seguro, vida normal. Vai tomar cuidado com cirurgias, procedimentos. Já o paciente que tem a plaqueta muito baixa, que está necessitando de um tratamento, vai precisar de um acompanhamento regular e frequente até que essas plaquetas fiquem em um valor seguro e estáveis e, dependendo do número de plaquetas, evitar alguns esportes de impacto para evitar sangramento.